sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Editorial do Jornal Tribuna de Ribeirão Preto - 23 de Novembro de 2011

Marli Vera


Tenho trabalhado com cultura há muito tempo. Só de Cauim já vamos para 33 anos.
Mas o que é trabalhar com cultura? Em geral, é trabalhar com gente. E trabalhei comtodo o tipo de gente: do bem, mais ou menos, do mal e outros realmente do demônio.
Entre as pessoas do bem que conheci e com quem tive o prazer de trabalhar,
uma foi a Marli Vera. Ela trabalhava no Ribeirão em Cena, grupo extremamente
ligado ao Cauim. Nas inúmeras vezes em que estivemos juntos, nunca soube que
ela tinha Síndrome de Turner, e só depois de algum tempo é que fiquei sabendo
que ela era irmã da então vereadora ou deputada Darcy Vera.
Mas, de fato, o que mais me comove na Marli é a sua disposição para trabalhar.
Acho que ela fez Artes Cênicas, mas trabalhava mesmo era no pesado, no
faz tudo. Sempre aparecia no Cineclube Cauim e já na porta aparecia gritando:
– O “Bigode” (Gilson Filho) pediu um microfone emprestado.
– O “Bigode” pediu o DVD emprestado.
Assim, como um vizinho que vem buscar uma xícara de açúcar. Às vezes, saía
carregando caixas de som, quase do seu tamanho e dispensava as caronas, pois
não queria dar trabalho.
Em época de muitos projetos, resolvemos juntar forças para tocar o Teatro Débora Duboc. Juntamos o Cineclube Canarinho, o Coro Cênico Bossa Nossa e o Ribeirão em Cena e, enquanto discutíamos como arrumar dinheiro para limpeza, desentupir privadas, etc, surge a Marli com balde, rodinho e saco plástico em uma das mãos e, em um minuto, os vasos já estavam desentupidos.
Logo depois, sua irmã foi eleita prefeita e ela pediu para sair para não prejudicar a gente.
Dias desses encontrei com ela na rua:
– Marli, você tem que trabalhar comigo no Cauim, tem que ajudar com os
ônibus cheios de crianças.
– Não posso Kaxassa, eu sou irmã da prefeita.
– Então, trabalhe como minha secretária particular.
– E “cê” acha que eu sou louca?
Pois é essa a perigosa traficante de influência, a eminência parda do governo?
Acusar artistas ou qualquer pessoa que seja sem provas é muito perigoso.
Já vivemos esse terror há pouco tempo em nosso país. Se a briga é política, vamos discutir no campo das ideias.
Ou, então, como diz o samba do grande Herivelto:
“Primeiro é preciso julgar pra depois condenar”

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